[…] MÃE DE DEUS… E TAMBÉM MÃE NOSSA!
Diante da riqueza da Liturgia inspirada pelo Espírito Santo para exaltar a
maternidade divina de sua Esposa, devemos compreender que também nós estamos
contemplados nesse privilégio de Maria. Todos os batizados fazemos parte da
Santa Igreja, Corpo Místico do qual Cristo é a Cabeça e nós seus membros. Ora,
quem é Mãe da Cabeça é Mãe‚ de todo o Corpo! E quando nascemos para a graça, no
Batismo, passamos a participar da família divina enquanto filhos de Deus e
irmãos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Também por esse aspecto Maria é nossa Mãe.
Além disso, assim como os rios correm a partir de uma nascente, a fonte de
nossa vida sobrenatural é Nosso Senhor Jesus Cristo, pois “todos nós recebemos
da sua plenitude graça sobre graça” (Jo 1, 16). E a Mãe desse manancial de
graças é também Mãe dos riachos que d’Ele procedem.
Foi o próprio Salvador que, crucificado entre dois ladrões no alto do Calvário,
deu caráter oficial à maternidade de Nossa Senhora extensiva a nós. Na pessoa
de São João Evangelista, Jesus nos entregou a Ela como autênticos filhos, ao
dizer: “Mulher, eis aí teu filho!” (Jo 19, 26), e ao Apóstolo: “Eis aí tua
Mãe!” (Jo 19, 27). Desta forma, colocou à disposição de todos nós, seus irmãos
pela graça e pela Redenção, sua própria Mãe. E Ela ama a cada um como se fosse
seu filho único, a tal ponto que se somássemos o amor de todas as mães do mundo
por um só filho, o resultado não alcançaria o amor que Nossa Senhora nutre por
nós, individualmente. [17]
Encontramos nas palavras do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira uma tocante
consideração a esse respeito: “Entre o Verbo Encarnado e nós há algo em comum,
algo insondavelmente precioso: temos a mesma Mãe! Mãe perfeita desde o primeiro
instante de seu ser concebido sem mácula. Mãe Santíssima de tal maneira que, em
cada momento de sua existência, não cessou de corresponder à graça; apenas
cresceu, cresceu e cresceu até alcançar inimaginável elevação de virtude. Essa
Mãe, d’Ele e nossa, tem misericórdia do filho mais esfarrapado, torto,
desarranjado; e quanto mais desarranjado, torto e esfarrapado, maior sua
compaixão materna. ‘Minha Mãe: aqui estou eu. Tende pena de mim hoje, agora,
como sempre tivestes e, espero, sempre tereis. Purificai-me, ordenai-me, tomai
minha alma cada vez mais semelhante à vossa e à d’Aquele que, como a mim, é
dada a indizível felicidade de Vos ter por Mãe!”.[18]
A Jesus, cujo Natal celebramos nesta Oitava, dirigimos nosso olhar cheio de
gratidão e imploramos que cheguem à sua plenitude as graças por Ele trazidas ao
mundo ao nascer em Belém: “Senhor, Vós quereis reinar sobre a Terra de uma
forma solene, majestosa e, ao mesmo tempo, maternal. Por isso, Vós entregais o
vosso Reino à vossa Mãe Santíssima. Nós Vos pedimos, Senhor, que a misericórdia
d’Ela triunfe o quanto antes! Neste momento, nosso coração se volta a Ela,
cheio da certeza de que sua misericórdia e bondade para cada um de nós é
superior à de qualquer mãe. Ela está disposta a nos abraçar, a nos acolher em
seu colo e nos proteger, quer seja contra a maldade dos homens, quer seja
contra a maldade vinda do inferno. Enfim, Ela está disposta a fazer de tudo por
nós! Senhor, não A retenhais! Deixai que a misericórdia d’Ela nos abrace, pois
só assim os horrores do mundo contemporâneo não atingirão nossa alma. Nós Vos
pedimos, Senhor, que Ela desdobre sobre os vossos filhos toda a sua bondade maternal
e misericordiosa, para que o reino do afeto, o reino do carinho materno, o
reino da bondade insuperável de Maria Santíssima se estabeleça na Terra. E que
Ela apareça sorridente na cerimônia de inauguração dessa nova era histórica,
dizendo a seus filhos: ‘Por fim, o meu Imaculado Coração triunfou”.
[17] Cf. SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT, Traité de la vraie dévotion à la
Sainte Vierge, op. cit., n.202, p.620.
[18] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A mesma Mãe. In: Revista Dr Plinio. São Paulo.
Ano IX. N.96 (Mar., 2006); p.36
Fonte: Comentários ao Evangelho - Lc 2, 16-21 - Solenidade da Santa Mãe de Deus