[…] Glória a Deus nas alturas...
Sim, a maior glória que a humanidade e os próprios Céus poderiam dar a Deus
realizou-se no grandioso nascimento do Senhor. Toda a criação — nela incluída a
Santíssima Virgem — reunida num só coro, jamais prestaria a Deus o louvor que
se elevou do Menino Jesus em seu nascimento. Antes de este ter-se dado, os
cânticos de todos os seres eram débeis e sem eco. Com a vinda de Cristo, causa
meritória e eficiente de nossa divinização, toda a obra da criação atingiu um
patamar inimaginável. E tornando-Se Jesus centro e modelo, não apenas o cântico
passou a ser outro, como Ele também começou a cooperar na infinita glorificação
que o Pai deseja Lhe seja tributada. A humanidade adquiriu como cabeça e
sacerdote o próprio Cristo, que só por seu nome dá toda glória a Deus.
Aquele Menino na manjedoura, desde seu primeiro momento e ao longo de sua vida,
em suas palavras, obras e sofrimentos, nada quis mais do que ser instrumento
para servir, louvar e glorificar a Deus.
Tanto mais nobre será o homem, quanto mais se considerar criatura de Deus e
deste princípio tirar todas as consequências, conferindo à sua vida uma inteira
ordenação. Daí nascerão as mais belas virtudes. Ora, vindo esta noite ao mundo,
o Menino, desde seu abrir de olhos, sempre foi submisso a Deus, na completa
justiça, equidade e perfeição. Até mesmo sem levar em conta o caráter
expiatório de sua Encarnação, já é insuperável a glória que se elevou a Deus,
partindo daquela gruta em Belém.
Paz na terra...
Em harmonia com essa “Glória a Deus nas alturas”, o Menino veio trazer a
paz aos homens. Sim, Ele nos reconciliou com Deus, ensinou-nos a bem conhecer e
amar o Pai, assim como nossos irmãos, e, morrendo por todos e cada um,
convidou-nos à santidade. O nosso fim último tornou-se claramente explícito,
como também ficou indicado qual deve ser o nosso governo sobre nós mesmos e
sobre as criaturas.
Mais uma vez, aproximemo-nos do Presépio e adoremos o Menino, Príncipe da Paz,
e ouçamos a voz de Isaías: “Como são belos sobre as montanhas os pés do
mensageiro que anuncia a felicidade, que traz as boas novas e anuncia a
libertação, que diz a Sião: Teu Deus reina!” (Is 52,7). Ele, o autor da graça
santificante, sem a qual “não pode haver verdadeira paz, mas somente uma paz
aparente” [6].
Eis o convite essencial para o mundo de hoje tomado pelas guerras, catástrofes
e ameaças: ajoelhe-se e, juntamente com Maria, José e os pastores, ouça a
saudação de São Paulo: “O Senhor da paz, Ele próprio, vos dê a paz, sempre e em
todos os lugares” (2 Ts 3, 16).
[6] Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 29, a. 3, ad. 1.
Texto completo: Comentários ao Evangelho da Missa da Noite do Natal do Senhor –Ano C – Lc 2,1-14