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Crescimento em sabedoria, estatura e
graça.
Santo Agostinho, São Tomás e a generalidade dos teólogos afirmam que Jesus
possuía em grau supremo, desde o primeiro instante de sua concepção, a graça, a
sabedoria e a santidade.18 E não só as possuía, mas era em substância a Graça,
a Sabedoria e a própria Santidade.
No entanto, Ele crescia fisicamente, de ano em ano, tomando configuração de
adulto, “mas sem exceder exteriormente as leis gerais do desenvolvimento
humano”, sublinha Fillion.19 De acordo com a idade, ia Ele manifestando mais a
Graça e a Sabedoria. Não Se tornava maior em substância, mas sim em
manifestação. Isso, segundo o Doutor Angélico, porque “à medida que avançava em
idade, fazia obras mais perfeitas para demonstrar que era verdadeiro homem,
tanto no referente a Deus como no tocante aos homens”. [20]
Oração e doutrina
Que aplicação tem esta passagem do Evangelho para nossa vida espiritual?
Há momentos de nossa existência nos quais temos a sensação de ter “perdido o
Menino Jesus”, isto é, com ou sem culpa nossa, a consolação espiritual desaparece
e nos sentimos desamparados. O que fazer quando percebemos que estamos sem
graças sensíveis, sem aquilo que nos dava ânimo e sustentação para praticar a
virtude?
Esta passagem do Evangelho ensina-nos a imitar Maria e José: ir atrás do Menino
Jesus, isto é, pôr-se à procura da graça sensível, quando ela se retirar.
Quando estivermos aflitos, na aridez, devemos procurar Jesus no Santíssimo
Sacramento. Não há nada, absolutamente nada do necessário para nossa
santificação que, se pedirmos a Jesus Eucarístico, não acabemos por obter.
Contudo, não nos esqueçamos de que, no Templo, Nosso Senhor estava entre os
mestres da Lei, o que bem pode significar a importância da doutrina para nos
sustentar na hora da provação. Daí decorre para nós a necessidade de uma boa e
sólida formação doutrinária.
Como quem vai fazer uma longa viagem providencia com antecedência documentos,
roupas apropriadas e tudo o mais, assim precisamos fazer nós: rezar muito e
conhecer bem a doutrina, a fim de estarmos preparados para atravessar os
períodos de aridez. Se tivermos os princípios bem vincados na alma, quando
bater o vento da provação, as folhas estarão firmes na árvore da Fé.
Fonte: Comentários ao Evangelho Domingo da Sagrada Família - Lc 2, 41-52 - Ano C
[18] Cf. por exemplo: SANTO AGOSTINHO, In Sermone LVII, de diversis; Tract. 108
in Ioan., n. 5; De trinitate, I, 15, c. 26, n. 4; AQUINO, São Tomás de. Suma
Teológica III, q. 7, a. 12.
[19] FILLION. Op. cit., p. 86.
[20] AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica III, q.7, a.12, ad 3.